A Semana



Mortes no trânsito: como vivenciar o luto?

O trânsito é feito de gente. Pessoas com suas vidas, histórias e vínculos transitam nas estradas traçando suas rotas e destinos. O movimento “Maio Amarelo” visa chamar a atenção para o alto índice de mortos e feridos nas estradas.

Acidentes de trânsito representam a nona causa de morte no mundo e uma das principais causas de morte entre jovens brasileiros entre 15 e 29 anos. 43 mil mortes por ano de acordo com os dados do Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus). Mata mais que doenças cardíacas, câncer de pulmão, HIV, a diabete mellitus e supera o número de suicídios e assassinatos por arma de fogo.

A psicóloga clínica Bianca Duccini, pesquisadora sobre luto pela PUC-SP, conta que este assunto traz outra questão à tona: a dor para quem fica. “Quem morre no trânsito é o amor de alguém e muitas vidas estão ligadas em um óbito. O luto é um processo singular, cada pessoa sente e vive de um jeito e não tem fases. É uma grande transformação na maneira como enxergarmos a própria vida e finitude”, afirma. A pesquisadora adianta que, no luto por morte violenta – morte repentina causada por fatores externos como acidentes, suicídios e homicídios – as mudanças na vida dos enlutados são abruptas, repentinas e forçadas.

Enfrentamento

Mas como lidar quando perdemos um ente querido de forma tão violenta? Bianca diz: “A maioria das pessoas vai passar por esse processo de adaptação sem precisar de ajuda especializada, encontrando suporte na família e na sociedade. No luto por morte violenta é possível que o enlutado precise de suporte considerando que causa uma mudança abrupta, repentina e forçada na vida e na identidade e, muitas vezes, a rede de apoio mais próxima também está enlutada”. Ela fala ainda sobre o estresse de separação diante da perda irreversível e um estresse adicional de trauma pela forma e circunstâncias como a pessoa queria morreu. “A situação poden trazer problemas psicológicos duradouros como o estresse pós-traumático, raiva intensa, minando a confiança em outras pessoas, inclusive no sistema policial e legal e evocando culpa por ter falhado em proteger o morto”.

Bianca Duccini
Psicóloga Clínica e pesquisadora sobre luto pela PUC-SP
@institutocais
institutocais@outlook.com

Redação

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