A Semana



Curiosidades gastronômicas no Folclore da nossa  Mogy Antiga

A cozinha sempre esteve ligada ao folclore, já dizia o saudoso mestre Isaac Grinberg. E por quê? Simples: há certas comidas e doces que são sempre associadas a dias da semana ou a festas religiosas. Senão vejamos: O bacalhau é geralmente prato de sexta-feira enquanto a feijoada é de sábado e a macarronada no domingo, peixes na semana Santa, peru e panetone no Natal, , cuscuz, bolo de fubá, pinhão nas festas juninas e o afogado nos faz lembrar a Festa do Divino. Eu, particularmente, como qualquer coisa a qualquer tempo. Mas estamos falando de outros tempos, daqueles bons tempos de Mogy com ípsilon.

A cozinha folclórica é ligada a tudo, inclusive à medicina. No início do século passado, por exemplo, uma criança constipada na linguagem da época, que queria dizer, resfriada, não podia tomar água comum da torneira ou do filtro, sem que se tivesse colocado no copo uma brasa ardente, para quebrar o gelo.

E quando ainda não havia geladeira nas casas? Quando matavam um porco, por exemplo, picavam em pedaços, fritavam toda a carne e derretiam a banha. Depois guardavam tudo num grande pote de barro onde a carne ficava escondida no meio da banha. Esse método conservava a carne por pelo menos um ano.

E aquelas crendices que não podiam misturar certos alimentos senão você morria. Eu quando era pequeno ainda cheguei a ouvir que manga com leite poderia causa morte.

Frontispício do livro “Cozinheiro Nacional” publicado em 1870 – obra que buscava uma valorização da cultura brasileira, com pratos baseados em ingredientes nacionais, como a banana, o palmito, a abóbora e a mandioca.

Outra curiosidade interessante é que quando uma mulher ia dar a luz, seu marido providenciava para que não faltasse galinhas ou frangos em casa. Já que a grávida teria que passar quarenta dias só na canja. E também não podia faltar um corote de pinga, já que a mulher grávida tomava dois cálices por dia. Hoje pede-se que uma grávida não tome nada alcóolico para não prejudicar o bebê.

Quanto aos doces, Mogi desde a sua fundação era conhecida por sua produção de marmelada, tanto que em 1894, uma notícia informava que Mogi havia produzido naquele ano , seiscentos quilos de rapadura. Era famoso também até os anos 80, o figo cristalizado de Mogi. No mercadão, por exemplo, se vendia tantos doces e de tão boa qualidade que aos domingos os trens de subúrbio chegavam lotados de paulistanos em busca de novidades no Mercadão. Disputadíssimo por exemplo, os doces caseiros, arroz doce com canela, biscoito de polvilho, , bolo de fubá, bom-bocado, cocadas, doce de batata doce e de cidra, geléia de mocotó pura, fios de ovos, pamonha, papo de anjo e tantos outros.
Nota: A comida mogiana é tão rica e folclórica que esta é a terceira matéria gastronômica da nossa coluna. Claro que vem muito mais por aí.

Fontes:

  • História de Mogi das Cruzes – Isaac Grinberg – 1961
  • Folclore de Mogi das Cruzes – Isaac Grinberg – 1983
Rouxinol Mogi

Mogiano, é designer gráfico com trabalhos em vários jornais da região. Pesquisador da história de Mogi das Cruzes há quarenta anos. Recebeu vários prêmios: duas vezes o “Profissionais do Ano” e uma vez “Personalidades de Mogi e Região”, prêmios esses pela divulgação da história de Mogi. Lançou seu primeiro livro “Mogy Antiga”em 11 de dezembro de 2021 onde fala sobre as histórias, curiosidades e personagens da nossa cidade.

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