A Santa Casa de Misericórdia de Mogi das Cruzes realizou uma cirurgia considerada rara e de alta complexidade em uma recém-nascida de 1,64 quilo, diagnosticada com gastrosquise, anomalia congênita em que há abertura na parede abdominal, geralmente próxima ao umbigo, fazendo com que intestinos e outros órgãos se desenvolvam fora do corpo. O procedimento, coordenado pelo cirurgião pediátrico e urologista pediátrico Kleber Sayeg, mobilizou uma equipe multiprofissional em duas salas cirúrgicas, uma para a cesariana da mãe, de 18 anos, e outra para a correção da malformação imediatamente após o parto.
A paciente havia iniciado o pré-natal no Hospital das Clínicas de São Paulo, mas procurou a Santa Casa na noite de segunda-feira (15), após sentir-se mal. O ultrassom confirmou a anomalia, e o hospital acionou Sayeg, que escalou a equipe para a intervenção. A cirurgia foi realizada na terça-feira (16). Segundo o médico, o parto ocorreu no momento exato para evitar complicações. Ao nascer, a bebê foi intubada e submetida à anestesia geral para que os órgãos fossem recolocados na cavidade abdominal. A fenda no abdômen foi transformada em umbigo, sem deixar cicatriz aparente. “Ela não terá qualquer cicatriz. Poderá ir à praia usando biquíni, sem preocupação com o que passou nos primeiros minutos após vir ao mundo”, afirmou o médico.
O procedimento durou cerca de 50 minutos e foi realizado com apoio de dois ginecologistas e obstetras, dois cirurgiões pediátricos, dois anestesistas — um deles especializado em pacientes com menos de 1,7 quilo —, um neonatologista, enfermeiras de UTI neonatal e um fisioterapeuta, além de técnicos de enfermagem. Menos de 24 horas depois, a bebê já não precisava mais de respiração artificial nem de medicamentos para relaxamento muscular. Apesar da alta da cirurgia, seguirá internada na UTI Neonatal até atingir peso adequado para ir para casa.
Para Sayeg, a rapidez foi determinante para salvar a vida da criança. “Se ela desse à luz num hospital onde o procedimento não existisse, teria de aguardar a transferência para outra unidade, conforme disponibilidade da central de vagas. Pela minha experiência, provavelmente, a criança morreria de sepse em 48 horas”, alertou. O médico destacou ainda o caráter público do atendimento. “Tudo correu 100% bem! Foi um trabalho de excelência, graças à equipe altamente gabaritada da Santa Casa que aceitou fazer o procedimento. São raros os hospitais públicos preparados para uma tarefa desse porte.”
Os procedimentos da cirurgia foram realizados pelo doutor Kleber Sayeg