Conheça as histórias de três pais onde a diferença não separa, mas une
Eles são pais que aprendem todos os dias uma nova forma de amar. Acolhem, ensinam, adaptam a vida e reaprendem a olhar o mundo pelas lentes da empatia. Neste Dia dos Pais (10), três histórias inspiradoras mostram o que significa ser pai de uma criança atípica — e como esse papel transforma não só os filhos, mas também o homem que assume, com todo o coração, o desafio e o privilégio da paternidade.
Quando Rafael Franco Rocha soube, ainda na gestação, que seu filho teria Trissomia do Cromossomo 21 — a conhecida Síndrome de Down —, ele não imaginava o quanto o amor que estava por vir mudaria sua vida. Hoje, aos 39 anos e pai solo do João Rafael, de 10, ele vive a rotina entre compromissos, terapias, carinho e lições diárias que só um filho atípico pode ensinar.
“João tem responsabilidades como qualquer criança: arruma a cama, ajuda com o café, vai à escola. E tem também suas dificuldades, como todos nós”, diz Rafael, com orgulho. O menino começou as terapias ainda nos primeiros dias de vida, e desde então conta com o apoio dedicado do pai. “Sempre ajusto as agendas para estar presente. Afinal, ser pai não tem função específica: é ser pai, e ponto.”
Rafael conta que o impacto do diagnóstico foi real, mas que a aceitação veio acompanhada de apoio e preparo: “Aprendi com o João que ser diferente é muito mais normal do que imaginanos”. Entre as lembranças marcantes, está a chuva que pegou os dois de surpresa depois de comprarem uma árvore de Natal. “Corremos juntos com a compra, rindo até chegar no carro. Todo Natal ele lembra desse dia.” Hoje, o vínculo é tão forte que, no meio da noite, o menino o acorda apenas para dizer: “Papai, obrigado por existir”.
Para Claysson Gonçalves Prudente dos Santos, de 33 anos, a jornada da paternidade atípica começou com o pequeno Bernardo, de 7 anos e meio, diagnosticado com Transtorno do Espectro Autista (TEA), nível 1 de suporte. A rotina da família é intensa — ele e a esposa trabalham juntos em uma clínica, e contam com o apoio da avó materna para os cuidados diários com o filho, que faz acompanhamento multidisciplinar em uma clínica especializada.
Claysson está cursando o último semestre de Fonoaudiologia e atua como acompanhante terapêutico. A relação com o filho é profunda: “Temos uma conexão mágica. Ele sempre me procura quando está doente. Nosso vínculo é cheio de afeto e respeito.”
O diagnóstico, em 2022, mexeu com suas estruturas. “O mais difícil não foi aceitar a condição, mas imaginar como o mundo o receberia. Foi necessário iniciar acompanhamento psicológico, e isso me ajudou a compreender melhor o processo.”
Ele lembra com emoção do nascimento de Bernardo, após uma primeira gestação interrompida por um aborto espontâneo. “Foram 24 horas de parto e eu não saí do lado da minha esposa por um minuto. Quando ele nasceu, veio como presente de Deus. Ele é o meu tudo, meu combustível diário para ser alguém melhor”, revela.
Já Ronaldo Pazini, de 46 anos, pai do Luís Felipe, de 11, vive a paternidade com um olhar maduro e cheio de entrega. Professor universitário, escritor, empreendedor e psicomotricista, ele também é pai do Gustavo, de 18 anos, e parceiro constante da esposa Katia. Luís é autista e recebeu o diagnóstico aos dois anos e quatro meses.
Desde então, a família reorganizou tudo: Ronaldo se especializou em psicomotricidade e a esposa deixou a educação para estudar fonoaudiologia. Luís faz terapias, natação, judô e mantém uma rotina bem estruturada. “Acompanhar tudo de perto, ir às reuniões, levar às atividades… isso não tem preço. Mas tem um valor imensurável”, conta Ronaldo.
O vínculo entre pai e filho é alimentado diariamente, nos gestos mais simples: arrumar a cama juntos, ir à padaria depois da escola. “Me marcou muito o dia em que ele me puxou pelo braço e, com 5 anos, falou pela primeira vez: ‘Papai, vamos brincar?’”
Ronaldo carrega uma visão clara sobre inclusão: “Crianças com autismo aprendem de forma única. Com paciência e amor, elas florescem. O mundo precisa parar de rotular e começar a respeitar.” Para ele, a verdadeira demonstração de amor está na presença diária, na escuta e no exemplo. “Com o Luís aprendo mais do que ensino, ouço mais do que falo, e recebo mais amor do que poderia dar.”
Em tempos em que tantas relações se tornam frágeis e distantes, Claysson, Rafael e Ronaldo mostram que a paternidade atípica não é sinônimo de dor, mas sim de transformação. São pais que enfrentam o mundo com coragem, que adaptam rotinas, enfrentam julgamentos e aprendem a cada passo com seus filhos — e, por isso, são também exemplos de amor em sua forma mais pura e incondicional.
Foto 1 – Claysson e Bernardo têm uma conexão forte e mágica, construída dia a dia com muito carinho, respeito e paciência
Foto2 – Rafael e João Rafael compartilham momentos de afeto e cumplicidade, mostrando que o amor verdadeiro não conta cromossomos
Foto3 – Ronaldo e Luís Felipe celebram a cada gesto simples e conquistado, como a primeira frase dita pelo menino: “Papai, vamos brincar?”