A Semana



CARRINHO DE ROLIMÃ (Rogério de Moura)


Leia ao som instrumental de Trenzinho caipira de Villalobos.
Lá, vai o menino no mundo.
Para trás, deixa a mãe no portão, preocupada, que o alerta:
— Tenha cuidado, filho!
— Eu te amo, mãe! — Responde. Segue seu caminho juvenil.
Em casa, com os pais, ficam os sonhos, as fantasias do futuro promissor.
Lá fora segue ele mergulhado na realidade infantil.
Lá, vai o menino pelas ruas, pela mão direita arrasta seu carrinho de rolimãs que um vizinho
ajudou a construir. O destino? A ladeira, lugar comum a todos os pilotos da categoria.
Chega aonde muitos já estão.
Carrinhos emeninados morrando
Abaixo emocionados a cima.
Ele se prepara. Instala-se no topo do morro.
Ajeita-se na tábua e ordena a largada:
— Vai! Me empurrem bem forte!
Lá, vai o menino em seu veículo pueril,
Rolando morro abaixo.
Tudo passa depressa.
Casas, guias, árvores, pessoas,
Cachorros correm atrás.
Lá, vai o menino tomando carona no tempo.
Desce sem medo.
Desce sem freio.
Desce e não para.
Vento na cara.
Coração diz para.
Emoção encharca.
Tempo; fica; traz.
Lá, vai o menino audaz.
Na baixa, um cavalo-de-pau;
E, voam faíscas e fagulhas pelo ar;
Sai fogo dos rolimãs de seu carro.
Lá, vai o menino subindo o morro.
Levando seu carrinho;
Íntegro em sua realidade acontecente.
Lá, vai o menino vivente.
Lá, vai o menino discente.
Lá, vai o menino.
O menino subiu desceu,
Várias vezes, e partiu.
Lá se foi o menino.
Seu presente — a infância

Rogério de Moura: Formado em Letras, Pedagogia e Artes Cênicas é professor de Língua Portuguesa, Espanhola, Literatura, Dramaturgia, Teatro e Artes. Mestre em Artes Cênicas pela ECA/USP. É também escritor, diretor teatral, ator, dramaturgo, cronista, poeta, contista.

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