A Semana



Padre Landell

“…era um pouco curvo, as mãos nos bolsos da batina, o olhar perdido, como num sonho. Mas poucos suspeitavam que ali ia um sábio, que a América do Norte já consagrara, emparelhando-o com Marconi, com Brighton e com Ruhmer!”

Jornalista Souza Júnior em artigo publicado no “Jornal da Manhã” de Porto Alegre.

Ele tomou posse como Vigário da Paróquia de Mogi das Cruzes em 22 de abril de 1906 onde ficou por quase um ano. Quem viveu naquela época em Mogi, diziam que ele era um homem alto e magro e que a batina o deixava mais alto e mais magro. Um homem estranho que o povo olhava com respeito e com certa desconfiança.

Esse era o Padre Dr. Roberto Landell de Moura que a ele se devem “algumas das maiores conquistas científicas dos tempos modernos nos campos da eletricidade: a lâmpada de três eletródios, a telefonia sem fio e a telegrafia sem fio!”, segundo o seu biógrafo Ernani Fornari.

Ele nasceu em Porto Alegre em 21 de janeiro de 1861, teve formação eclesiástica em Roma onde foi ordenado sacerdote em 1886.

Em Roma iniciou seus estudos de física e eletricidade, nos quais aperfeiçoou-se como autodidata no Brasil. Padre Landell de Moura estava isolado dos grandes centros de pesquisas da época, França, Inglaterra e USA, só tomando conhecimento dos avanços tecnológicos que ali ocorriam meses depois, pelas poucas publicações que chegavam ao Brasil.

Em 1893 realizou sua primeira experiência pública com seus inventos, o telefone e o telégrafo com e sem fio, do Alto de Santana à Avenida Paulista, conforme noticiado pelo Jornal do Comércio de 10 de junho de 1900:

“No domingo próximo passado, no alto de Santana, cidade de São Paulo, o Padre Landell de Moura fez uma experiência particular com vários aparelhos de sua invenção, no intuito de demonstrar algumas leis por ele descobertas no estudo da propagação do som, da luz e da eletricidade através do espaço (…), as quais foram coroadas de brilhante êxito. (…) Assistiram a esta prova, entre outras pessoas, o Sr P.C.P. Lupton, representante do Govêrno britânico, e sua família”.

Numa tarde, se ausentando de seu laboratório, multidão enfurecida invade o recinto destruindo todos os seus aparelhos e experimentos.

“Como? Pois então havia um Ministro de Deus que insinuava a pluralidade dos mundos habitados com as quais se poderia falar? Era necessário emudecer esse padre erético!” conta Ernanni Fornari.

Padre Landell não desiste. Mas devido as perseguições e dificuldades financeiras não conseguiu tão cedo refazer seus inventos. Depois de três anos passados de sua primeira experiência pública, Marcone patenteava seu invento, igual ao de Padre Landell, e se tornava oficialmente o inventor do telégrafo sem fio.

Em 1901 vai para os Estados Unidos e consegue refazer seus aparelhos. Assim requereu patente do telefone sem fio em 1901, do telégrafo sem fio em 1902 e do transmissor de ondas em 1903.

Mas, sem conseguir financiamento para novos estudos, regressou ao Brasil para voltar a sua carreira. Veio parar em Mogi, como vigário.

Faleceu aos 67 anos em 30 de junho de 1928 em Porto Alegre.

Fontes

  • História de Mogi das Cruzes – Isaac Grinberg – 1961
https://vejasp.abril.com.br/cidades/quem-foi-padre-landell-de-moura/
Rouxinol Mogi

Mogiano, é designer gráfico com trabalhos em vários jornais da região. Pesquisador da história de Mogi das Cruzes há quarenta anos. Recebeu vários prêmios: duas vezes o “Profissionais do Ano” e uma vez “Personalidades de Mogi e Região”, prêmios esses pela divulgação da história de Mogi. Lançou seu primeiro livro “Mogy Antiga”em 11 de dezembro de 2021 onde fala sobre as histórias, curiosidades e personagens da nossa cidade.

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