Aconteceu dia desses no salão de cabelereiros Espaço da beleza. Um vizinho e cliente das irmãs Beth e Vânia, donas do estabelecimento comercial, adentrou o recinto e disse: — Bom dia! Um cafezinho, por favor. Dona Vânia! — Em tom brincadeira.
— CaféÉ lá na esquina — Respondeu ela aos sorrisos.
D. Lourdes uma senhorinha de origem oriental. Sansei? Nissei? Não sei! Interrompeu: — Acho que o senhor está no lugar errado. Aqui vendem remédios — disse ela baixinho.
— É! Então, é melhor, eu ir à padaria — Completou o vizinho já de saída, quando percebeu no canto da porta de entrada uma bengala encostada. Pegou-a admirado e exclamou:
— Nossa! Bela bengala! É da senhora? Posso ver? — Com o consentimento de D. Lourdes a tomou em suas mãos — Que coisa bonita!
A bengala era esculpida em um galho de árvore e o artesão que a confeccionara aproveitara o movimento natural do galho e deu pequenos ajustes tais como: borracha nos pés, descascou, lixou e envernizou. A verdade era que a peça além de delicada e bela tinha história:
— A onde a senhora conseguiu, D. Lourdes? — Perguntou o curioso vizinho.
— Essa bengala foi o meu marido que fez. Que Deus o tenha! Graças a Deus! — Exclamou ela com a mesma delicadeza e com suavidade continuou — Ele era aposentado, e precisava de uma bengala. Já que não tinha o que fazer. Fez a própria bengala.
— Nossa dona Lourdes, ficou muito boa! — Exclamou a cabelereira.
— Que bonito! Que cuidado! Que delicadeza? — Completou o vizinho.
— Muito bem feito — Disse Vânia — Que árvore que é?
— Isso é galho do pé de café. — Acrescentou dona Lourdes.
— Não acredito, a conversa é só sobre café! Ele trabalhava na lavoura? — Perguntou ele.
— Não! Há uns trinta ou quarenta anos, tinha um pé de café plantado em uma lata lá em casa e não tinha mais para onde crescer; de modo que começou a definhar. Um dia meu marido — que Deus o tenha, graças a Deus! — depois que se recuperou de um derrame, sentiu a necessidade de um apoio. Foi aí que ele pegou a planta, descascou, lixou e envernizou. Ele deu nova vida a muda do pé de café, que afinal de contas já
estava seca. Ele usou por uns tempos até morrer. E hoje quem necessita sou eu. Fazer o que?
— Ora Dona Lourdes. Que história importante. Afinal ainda bem que a senhora tinha em casa um pé de café.
— É mesmo — Complementou Vânia — A senhora está muito bem.
— Interessante — argumentou o vizinho — Eu vim aqui só para tomar um café, de brincadeira e tive uma lição de vida. Pois é! Como muda o pé de café



