O presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, afirmou nesta segunda-feira (19) que, diante do cenário atual de incertezas e expectativas desancoradas, faz sentido manter a taxa básica de juros em um nível restritivo por mais tempo do que o habitual. A declaração foi feita durante palestra no Annual Brazil Macro Conference, promovido pelo banco Goldman Sachs.
“Temos reforçado que, com as expectativas desancoradas e com o cenário que estamos assistindo — e até com o histórico mais recente — faz sentido a gente permanecer com estes juros num patamar restritivo e por um tempo mais prolongado do que usualmente costuma praticar”, disse Galípolo.
Segundo ele, o momento é de calibragem da política monetária e exige flexibilidade diante de fatores internos e externos ainda incertos. “Queremos guardar essa flexibilidade para reagir conforme os fatos forem se desenrolando”, afirmou.
Galípolo destacou que, neste contexto, o tempo em que a taxa de juros permanece elevada tende a ser mais relevante do que a intensidade dos ajustes. Ele ressaltou ainda que não é o momento de antecipar decisões, mas de esclarecer como o Banco Central reage às variáveis do cenário econômico. “O momento de incerteza demanda muito mais uma postura nesse sentido, de explicar qual é a nossa função de reação, e menos de dizer o que vamos fazer.”
O presidente do BC também mencionou o desempenho da economia brasileira, que deve registrar, pela quarta vez consecutiva, crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima de 3%. Segundo ele, o avanço ocorre mesmo com os juros nominais em dois dígitos, o que demonstra que a política monetária tem surtido efeito. No entanto, ele ponderou que, diferentemente dos anos anteriores, não há revisões para cima nas projeções de crescimento.
Entre os fatores de incerteza, Galípolo citou o impacto de medidas externas, como o chamado “tarifaço” proposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O tema já havia sido mencionado na ata da última reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), divulgada no dia 13, que apontou dúvidas sobre a clareza, viabilidade e os efeitos práticos das tarifas.
De acordo com o BC, o impacto de medidas como o tarifaço será avaliado a partir de seus reflexos em commodities, câmbio e inflação. Galípolo também defendeu as recentes decisões da autoridade monetária, lembrando que o núcleo de alimentos acumulou inflação de 17% entre janeiro de 2024 e abril de 2025. Esse cenário justificaria, segundo ele, a elevação de 425 pontos-base da Selic no período.
Hoje, a taxa básica de juros está em 14,75% ao ano — o maior patamar desde 2006. A Selic foi elevada pelo Copom pela sexta vez consecutiva no início de maio, com um ajuste de 0,5 ponto percentual. Na ata da decisão, o comitê reiterou o compromisso com a meta de inflação, mas não antecipou os próximos passos, diante do que classificou como um “cenário de elevada incerteza”.
Galípolo reforçou a necessidade de cautela na análise dos indicadores econômicos. “Vamos ver dados que sugerem desaceleração, como em crédito, mas também dados fortes no mercado de trabalho e em serviços. Por isso, é preciso olhar menos para a volatilidade mensal e mais para as tendências, com parcimônia e cautela”, concluiu.
Crédito: Washington Costa/MF/Divulgação